Memorial

Maria Aparecida Baccega, nosso eterno carinho e agradecimento.

[1] Em 1952, foi criado o Ginásio Estadual de Osasco, mais tarde como Colégio e Escola Normal Antônio Raposo Tavares (Ceneart). Como um dos dois ginásios públicos da cidade que se expandia industrialmente, o Ceneart atendia com cursos noturnos à demanda por qualificação dos operários, entre os quais jovens em idade escolar. Memorial da Resistência. Disponível em: www.memorialdaresistênciasp.org.br

[2] O projeto Educom.rádio, que tinha por objetivo levar a linguagem radiofônica às escolas, foi desenvolvido de 2001 a 2004 pelo Núcleo de Comunicação e Educação da ECA-USP. O trabalho foi realizado por 455 escolas do município de São Paulo, a maioria da periferia, e formou 12 mil educomunicadores.

Biografia

Esta homenagem à Professora Dra. Maria Aparecida Baccega, que dá nome a nossa Cátedra, diz respeito não somente à qualidade de sua vasta obra e contribuição aos campos da comunicação, educação e consumo, como também expressa a alegria de podermos de alguma forma eternizar a sua exitosa trajetória que contempla décadas de produção. Afinal, seu olhar atento aos movimentos do mundo e seus escritos seguem vigorosos e atuais.

O texto foi elaborado a partir do memorial escrito pela professora em 1991, como requisito para o título de Livre Docente junto ao Departamento de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Portanto, trata-se de um diálogo quase em primeira pessoa, com toda a carga de afetos necessária para a conexão com a trajetória pessoal, acadêmica e profissional de Maria Aparecida Baccega. Sem mais, convidamos você a conhecer melhor a autora e sua obra.

Maria Aparecida Baccega nasceu em 14 de abril de 1943, época do fim da Segunda Guerra, em Ribeirão Preto, num bairro operário chamado Vila Tibério. Filha de imigrantes italianos, deve a mãe o gosto pelos estudos e ao pai, a consciência do processo histórico, do homem inserido no mundo. Ler e escrever sempre foram para ela, fontes de prazer. Mas não só, cantar também era uma alegria. Isso, graças ao seu pai que, além de operário, era músico profissional. Tocava trombone de vara, saxofone, clarineta. Regia a banda municipal, que tocada cada dia num dos coretos da cidade. Desde sempre, o pai tocava e Maria Aparecida cantava.

Passou do Grupo Escolar do bairro operário para o Instituto de Educação Otoniel Mota, o Ginásio Estadual da cidade, em primeiro lugar no exame de admissão. Lembrando que, na década de 50, as escolas particulares eram “destinadas aos outros”. Logo que começou o ginásio percebeu na prática que nem todos podiam participar de tudo. A consciência de que era uma entre milhares estabeleceu-se muito forte desde a primeira série do ginásio.

Era o Brasil de Juscelino. Para ela, pareciam mais concretas as possibilidades de que o mundo, que continuava cada vez mais fascinante, pudesse ser dividido com os pobres. A política dentro da escola corria solta. E, terminado o curso normal, Maria Aparecida queria justiça, e foi pensando nisso que decidiu pela carreira de advogada. Quanto ao curso de direito, até que tinha razão, quanto ao exercício da profissão, nem tanto.

Em 1961 estava no curso de Aperfeiçoamento, pós-graduação do Normal, e no 1o. ano da Faculdade de Direito. Jânio ganha e renuncia. Os militares acham que já podem dar o golpe. Nesta mesma época casou-se e teve o seu primeiro filho, nascido em 1962. A rede de irmãos, como ela denominada aqueles que compartilhavam as ideias de um novo Brasil, aumentava e a fraternidade passava a ser um substantivo concreto. 

Mas vem 64. Seu filho já está com dois anos e ela percebe que, de repente, seus amigos (irmãos) sumiram. Alguns foram presos, outros apenas se recolheram para uma meditação um pouco mais profunda. Até que chega a noite do dia 31 de março. Foi uma noite e dias seguintes em que todos se perguntavam o que fazer. E a resposta em tardou tanto: tem culpa no cartório, o melhor é se afastar. Mas seus ideias continuaram os mesmos: o mundo estava aí e tinha que ser de todos. Tinha que resistir e para isso, a cultura favorecia: teatro, cinema, música, tudo valia.

Durante o seu curso na Faculdade de Direito, além de estar “construindo o Brasil”, Maria Aparecida também dava aulas na escola da Fazenda e no Sesi, ou seja, era professora rural e urbana. Dar aula na roça era uma experiência enriquecedora. Era, na época, ter contato com uma dimensão do Brasil que contava muito. Crianças que se embriagavam com apenas sete ou oito anos de idade, crianças que não conseguiam se alfabetizar, filhos da desnutrição, alunos de 1o., 2o. e 3o. anos primários na mesma sala.            

Era difícil, mas o engajamento da professora era total. Valia a pena. Será que os alunos lembrariam? Da professora que se horrorizou na primeira vez que a classe toda saiu correndo atrás de um bicho – um rato ou seria um coelho? – e todos disputaram acirradamente a posse dele, porque era para…comer. Era um preá. Ou então, da outra vez em que foi a professora que saiu correndo da sala porque um morcego transviado entrou. E a aranha enorme na caixa de giz, que pegou quando, de costas para a caixa e falando para a classe, como sempre, enfiou a mão sem olhar. Eram tantas histórias.

Na cidade, dando aulas no bairro operário de Campos Elíseos, foi uma professora severa, que nunca descuidou da formação-informação. Era preciso convencê-los a estudar de qualquer forma, e numa escola pública. Seus alunos sabiam pensar o Brasil. Isto custava caro, é claro. Era o início da década de 60.

Ainda durante a Faculdade de Direito, de outubro de 1963 a março de 1964 (31 de março, mais precisamente), a profa. Baccega viveu em seis meses uma experiência que a enriqueceu por toda a vida: trabalhou com Paulo Freire no Ministério da Educação (MEC). Confessa, sinceramente, não saber quem era Paulo Freire, não tinha visto nem lido nada dele. Antigamente as coisas eram muito distantes. Mas quando ouviu o que ele estava propondo, Maria Aparecida encontrou a Profa. Baccega. Segundo suas próprias palavras, “ele deu forma aos meus desejos”. Além de se descobrir como professora, também cresceu como pessoa e profissional. Terminada a Faculdade de Direito, volta a São Paulo para fazer a pós-graduação na São Francisco, o que não chegou a concluir, por mudança de interesses, e passou a Coordenadora (diretora) de uma escola do Sesi em Osasco.

Osasco naquela época cheirava muito mal. Havia esgoto correndo solto pela cidade. Pelo centro da cidade. A escola, no bairro da Campesina, naquele tempo bairro pobre atendia filhos de operários. A professora vislumbrava uma nova realidade: Ribeirão Preto não era uma cidade operária, Osasco sim. Neste contexto, inicia um trabalho concomitante com o Sindicado dos Metalúrgicos e com a Igreja. As professoras da escola, ótimas quase todas, não tinham, porém, uma visão crítica da realidade. A resistência continuava. Cultural, é claro. Iniciou um trabalho conjunto com o CENEART[1] para trabalhar com as crianças fazendo a ponte entre o passado e o presente. Que são capitanias hereditárias? Quais são os problemas da terra no Brasil?

É nessa época que conhece o Barreto, aluno do CENART, tocava violão, era amado por todas as crianças da escola, fez até trilha musical de um espetáculo de teatro que as crianças encenaram. Morreu mais tarde por estar amparando um doente. Asmático. Era o Lamarca. Ambos fuzilados covardemente. O Barreto foi um dos muitos irmãos que Maria Aparecida perdeu para a repressão. Era um grande brasileiro.

Além de coordenadora da Escola do Sesi, trabalhava em Osasco, primeiro como advogada (e confessa que não gostou da experiência), depois como professora do curso de Madureza Fernão Dias Pais. Como advogada, tinha um único cliente que em um determinado dia solicitou que o auxiliasse em um processo de despejo. A primeira providência foi chamar o inquilino do cliente para conversar. Chega no escritório um homem pobre, tirou o chapéu na porta e falou – senhora, dona doutora, eu não posso pagar… Depois disso, Baccega deixou o escritório. Não conseguiria continuar.

A resistência ao golpe continuava e a classe operária vai à greve. É a greve de Osasco, sobre a qual os intelectuais já deitaram muita falação. Tava lá o Barreto (muitos alunos do CENEART eram operários durante o dia), o Ibrahim, o Neto, e tantos outros. E o Dorival, que a política mata mais tarde na sua própria casa, diante da família, mulher e filhos.

Já não se pode mais circular com tranquilidade. As perseguições começam num processo acelerado. Baccega casa-se pela segunda vez, dessa vez para sempre. É o Granville, companheiro da casa e das lutas.

Chegou o famigerado 13 de dezembro de 1964 e com ele o AI-5. Começam as prisões. Ela e Granville foram os primeiros. Baccega, sai logo da prisão, o companheiro fica. Amargou dois anos e meio de cadeia, entremeado de torturas. Os irmãos, mais uma vez desapareceram, a repressão encurrala… a todos. Qualquer resistência está proibida.

Muitos morrem. A maioria é barbaramente… torturada nos porões do DOPS. Ela foi testemunha. O preço por querer que o mundo fosse de todos era alto. Mas a sua geração não foi covarde. Perdeu a batalha.

Vem a época da cadeia. O filho de menos de seis anos vê o pai ser preso. No grupo escolar, o pai do amigo não deixa brincar com ele pois o pai é preso político. Nesse tempo não era chique ser de esquerda. Era uma marca pesada de carregar. O mundo dá voltas. Depois de quase seis décadas do AI-5, tivemos uma cena triste no dia 08 de janeiro de 2023, com a invasão da Esplanada dos Ministérios em Brasilia pedindo a volta dos militares. Tempos bicudos.

Maria Aparecida Baccega deixa de ser coordenadora da Escola do Sesi e passa a Assistente Educacional, na função de coordenadora das assistentes. O Sesi aprovava o seu desempenho profissional, mas poucos sabiam da sua situação. O cenário muda em junho de 1971, quando o Granville sai da cadeia. Eles não contavam porque podia ser perigoso para a pessoa ser amiga de alguém que se relacionava tão intimamente com presos políticos.

Além do Sesi, depois de ter trabalhado um ano numa Escola da Lapa, vai dar aulas de Português no Santa Inês. Acumula as funções de responsável pelo Departamento Cultural. A resistência ao autoritarismo continuava na eficiência do trabalho do Sesi, escrevendo para uma rede de 250 escolas e 4.000 professores, onde, com as cautelas devidas, defendia-se o ensino humanista e colaborava para que a criança tivesse efetivamente um espaço seu. Era a época do Pasquim, lido e discutido avidamente. Dos espetáculos do Departamento Cultural, que custavam noites de sono de ensaios. O filho a acompanhava. Viu a copa de 70 (lembra da marchinha que todo mundo cantava enquanto brasileiros morriam e eram torturados?) num sofá do Santa Inês, enquanto a mãe dava aula. “Tudo isso o tornou um homem maravilhoso”, lembra Baccega.

Em 1973 nasce o segundo filho. Tem uma desvantagem com relação ao primeiro. Não conheceu homens e mulheres maravilhosas como a Helenira, que morreu no Araguaia e que fazia Letras na USP, o Mariguela e o Toledo, verdadeiros heróis populares, entre tantos outros. Mas também tem uma vantagem: pai e mãe em casa, possibilidade de passar alguns anos num país um pouco mais democrático, polícia à distância, partidos fora da clandestinidade, embora continuem os estigmas. E toda uma experiência vivida sobre a qual ele pode refletir, juntamente com a sua geração.

Quanto o Granville volta para casa, Baccega deixa o emprego no Santa Inês e vai cursar regularmente o curso de Letras na USP. Já havia feito o vestibular em 1968, mas foi obrigada a interromper a graduação por causa do AI-5, decretado pela ditadura militar, levando em conta sua condição de militante do Partido Comunista Brasileiro. Sua carreira de professora de Português já era longa. Acertou os documentos. A Faculdade a enriqueceu, não só por tomar contato com teorias mais modernas, como principalmente por conviver com a juventude. Era 1972, e a Profa. Baccega sentia tristeza ao ver a alienação dos alunos. Tão diferente de  68. Claro, para que as pessoas sejam profissionais inovadores, em qualquer área, é preciso que o país todo viva um clima de reconstrução, de descobrimento contínuo.

Em 1976 começa o magistério no ensino superior. Passa a ser professora da USP, no departamento de Linguística e Línguas Orientais da FFLCH e da Faculdade Ibero-Americana de Letras e Ciências Humanas, onde acumula as funções de Chefe de Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, o que deu a Profa. Baccega possibilidade de organizar e executar atividades culturais, entre outras. Começa tudo de novo. É o grupo de teatro, são os escritores que vêm falar aos alunos, são as Semanas Culturais. Todos os cursos, desde o 1o. ano, relacionando os aspectos de linguagem com a realidade brasileira. Para a profa. Baccega, não há língua portuguesa sem realidade brasileira, não há língua sem cultura.

Em 1978 vai para a ECA. Confessa que não sabia se essa era a opção mais adequada. Isso porque, a escola tinha fama de ter alunos terríveis. Mas, a professora Baccega não era pessoa de largar desafio. Foi e gostou. Os alunos eram incríveis. Foi fácil avivar-lhes a criticidade, fazê-los refletir sobre os esteriótipos que lhes foram passados durante toda a vida. Valeu a pena. Continuou brigando para que todos tenham vez e voz. E para isso sempre usou as armas de que dispunha: não eram muitas, mas procurou fazê-las render ao máximo. E a principal delas é ser professora. E professora de Língua Portuguesa, na relação direta de interdependência que há entre língua e cultura. Nessa relação está o papel principal de qualquer língua: ser também instrumento de libertação. É o que Maria Aparecida Baccega sempre procurou ensinar, é o que sempre procurou fazer. Sem distinção entre o discurso e a prática pedagógica.

Na Escola de Comunicação e Artes da USP, fez seu mestrado e doutorado na área de Letras e sua trajetória de 25 anos na instituição foi decisiva para os estudos de recepção, conforme atesta a Profa. Roseli Fígaro, amiga e parceria de trabalho. A profa. Baccega destacou-se nos estudos do discurso, como especialista em linguagem verbal, editora de periódicos científico; pesquisadora da linguagem e de análise do discurso, dos estudos de telenovela, da gestão dos processos comunicacionais e das inter-relações de comunicação e educação. A formação acadêmica da Profa. Baccega evidencia seu envolvimento com temas que vão além do estudo da Língua Portuguesa.

No Mestrado em Linguística, em 1981, a dissertação foi sobre “Redações de vestibulandos: valores inculcados e desempenho linguístico”. No doutorado, concluído em 1986, sua tese levou o título “Mayombe: ficção e história (uma leitura em movimento)”. O pós-doutorado e a livre docência foram obtidos em 1991, com o trabalho “Comunicação, ficção e história: a construção da literatura angolana”.

Foram justamente essas reflexões sobre as relações entre comunicação, consumo e recepção que a Profa. Baccega aplicou nos projetos de pesquisa que participou e coordenou. Foi uma das fundadoras, do curso de pós-graduação lato sensu Gestão de Processos Comunicacionais, do qual foi coordenadora, além de docente e orientadora, de 1993 a 2003. A partir de 1995, com o apoio da Fapesp, dedicou-se aos estudos de telenovela, formato de ficção televisiva mais popular do mundo. O grupo liderado pela professora tomou o tema com tal abrangência teórica e metodológica que até hoje não parou de ser estudado. Participou como vice-coordenadora do Obitel (Observatório Ibero-americano de Ficção Televisiva) e no âmbito desse observatório, orientou inúmeras pesquisas e publicou livros e artigos. Ainda, foi membro do Conselho Editorial da Revista da USP, em 1999 e responsável pelo Núcleo de Seminários Internúcleos do curso e pelo Núcleo Administração e Ação Comunicativa, até 2005.

Esse é o espírito da Profa. Baccega. Dedicou sua vida à educação e à comunicação, sempre com o objetivo de contribuir para a construção da cidadania. Esse também foi o contexto que levou à criação da Revista Comunicação & Educação, uma publicação do Curso de Pós-graduação Latu Sensu Gestão de Processos Comunicacionais da ECA-USP, da qual foi diretora editorial entre 1994 e 2005. O objetivo da revista era superar a visão ultrapassada com que os meios de comunicação costumam ser tratados. Visão essa que se expressa em posturas rígidas, tradicionais, incapazes de reconhecer a importância dos meios de comunicação ou, por outro lado, num exagerado fascínio pelas mídias que pode resultar na ausência da criticidade. A revista teve um papel fundamental na formação do campo Comunicação e Educação.

Foi também chefe de departamento de Comunicação e Artes (CCA) da ECA, entre 1992 e 1996, e, em 2000, foi responsável pela atividade Pensando a Educomunicação do Projeto Educom.rádio[2], coordenado pelo Prof. Ismar de Oliveira Soares. Para a Profa. Baccega, o processo de interação entre escola e o meio de comunicação torna-se importante na medida em que desenvolve ações que estimulem a leitura crítica da televisão. Imaginemos a atualidade dos computadores e da digitalização que nos atravessa. Nisso a professora e pesquisadora, sempre foi uma voz contemporânea ao considerar a comunicação como a grande mediadora entre nós e a realidade objetiva. Um mundo editado, modificado, que forma a base do nosso conhecimento. Daí, a necessidade de uma postura crítica diante das mensagens que recebemos a todos momento.

A interrelação comunicação/educação, portanto, não se resume ao uso das tecnologias em sala de aula. Para a Profa. Baccega, elas podem ser utilizadas, mas essa não é a questão central da comunicação/educação. Foi esse o pensamento considerado para a emergência da Cátedra, projeto elaborado e desenvolvido pelo Programa de Pós-Graduação e Práticas de Consumo (PPGCOM-ESPM) em 2015, que tem como fim, aglutinar em torno dos processos comunicacionais midiáticos e de consumo da contemporânea sociedade brasileira, visando ao desenvolvimento de educação para os meios e para o consumo, junto a professores do ensino básico e à sociedade em geral.

Mas foi em 2003 que, aposentada como livre-docente e professora associada pela Universidade de São Paulo, foi convidada a participar como docente/pesquisadora (decana) do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (PPGCOM-ESPM) e, assim, continuou a difundir as interrelações da comunicação e da educação e as possibilidade de união dessas ferramentas de luta pela transformação da sociedade.

Em 2010, o Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da USP outorgou à Profa. Baccega o prêmio “Mariazinha Fusari de Educomunicação”, honraria nomeada em memória da carismática professora da Faculdade de Educação da USP e cofundadora do NCE. Em 2018, o mesmo núcleo outorgou outra comenda a Maria Aparecida Baccega, celebrando os mais de vinte anos de contribuição da revista Comunicação & Educação ao campo da Educomunicação.

A Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) contou com a assídua participação e apoio da Profa. Baccega em seminários, congressos e publicações. A Intercom outorgou a professora os prêmios Luiz Beltrão de Grupo Inovador de Pesquisa em 1999, e de Maturidade Acadêmica em 2013. Também homenageou a pesquisadora, em 2015, por ocasião do Jubileu de Prata de associação à entidade.

Não é à toa que, em 2013, aos 70 anos de idade e mais de cinco décadas de dedicação ao ensino e à pesquisa, Maria Aparecida Baccega tenha sido homenageada com uma coletânea produzida por amigos, familiares, colegas, funcionários, alunos, ex-alunos que escreverem breves textos, ou cartas, nos quais relataram os aspectos mais significativos de suas memórias de convívio e interação com a homenageada. O resultado é uma belíssima obra intitulada “Maria Aparecida Baccega: dedicação, ética e solidariedade”, constituída por depoimentos e testemunhos. A trajetória pessoal da Profa. Baccega funde vida pessoal, trabalho e comprometimento com a mudança social. Por isso, o engajamento político e a militância são facetas inextricáveis de sua trajetória.

Na pós-graduação da ESPM, formou uma nova geração de mestres e forjou uma equipe de pesquisadores orientadores de destaque nacional. Na instituição, Maria Aparecida Baccega, passou a integrar como Presidente de Honra a comissão julgadora do Prêmio Comunicon de Pesquisa em Comunicação e Consumo, 2013; foi homenageada como decana em 2014, e em 2019 com a honraria de receber em seu nome a Cátedra Comunicação, Educação e Consumo.

Nos primeiros dias de janeiro de 2020, ano em que a revista Comunicação & Educação completaria 25 anos, uma de suas principais idealizadoras, primeira editora e mentora, nos deixou. O texto publicado pela comissão editorial da revista em homenagem à Profa Baccega atesta o seu legado invejável, que está registrado nas milhares de fotografias e mensagens deixadas nas redes sociais de alunos, orientandos, colegas de trabalho, amigos e admiradores. Sua trajetória é contada por meio das marcas deixadas pela firmeza de princípios, pela coragem, pela fraternidade e pela luta em prol de um Brasil melhor.

O texto ainda apresenta a vasta contribuição da Profa. Baccega em forma de publicações no campo da comunicação, análise do discurso, comunicação e educação, bem como das interfaces comunicação-consumo. Publicou um total de 77 artigos em periódicos científicos e obteve, em janeiro de 2020, 2.485 citações no Google Scholar. Maria Aparecida Baccega também apresentou trabalho em 117 congressos, organizou e/ou editou 29 livros e publicou 61 capítulos de livros.

O legado intelectual da Profa. Baccega é multi e interdisciplinar por definição e por excelência. Sua postura crítica, política e militante pressupõe a diluição das fronteiras como forma de avançar o conhecimento. É uma pensadora de vanguarda em muitas frentes: comunicação, educação, telenovela, consumo, cidadania. Mas é na linguagem, que ela constrói mundos. É deste lugar, como educadora, que Maria Aparecida Baccega forma cidadãos mais críticos, ativos e conscientes. A ela todo nosso respeito, carinho e admiração da equipe da Cátedra Comunicação, Educação e Consumo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Baccega, M. A. Memorial. Título de Livre Docente junto ao Departamento de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo: ECA-USP, 1991.

________________. Do mundo editado à construção do mundo. Comunicação & Educação, (1), 7-14. 1994.

______________. Comunicação e Linguagem: discursos e ciência. São Paulo: Editora Moderna, 1998.

_______________. Palavra e discurso: história e literatura. São Paulo: Ática, 2007.

_______________. (Org.). Comunicação e culturas do consumo. São Paulo: Atlas, 2008.

_____________________. BACCEGA, M. A. Inter-relações comunicação e consumo na trama cultural: o papel do sujeito ativo. In.: CASTRO, G. G. S.; TONDATO, M. P. (Orgs.). Caleidoscópio midiático: o consumo pelo prisma da comunicação. São Paulo: ESPM, 2009, p. 12-30.

Castro, G. G. S.; Assis, F. (Orgs.). Maria Aparecida Baccega: Dedicação, ética e solidariedade. São Paulo: Intercom, 2013.

Fígaro, R. Contribuições de Maria Aparecida Baccega aos Estudos de Recepção. Comunicação, Midia e Consumo. São Paulo, v. 17, n. 50, p. 399-426, 2020.

Junqueira, A. H. Baccega, o livro e o caleidoscópio: pequenos fragmentos de uma grande história. Bibliocom. São Paulo, jul/dez. 2014.

Nonato, C.; Soares, I. O.; Figaro, R. Maria Aparecida Baccega (1943-2020). Comunicação & Educação. Ano XXIV, n. 2, 2019.

Rodrigues, A.; Rabello, M. E. As contribuições de Baccega para a construção da comunicação/educação. TCC. USP, s/d. Educomunicação.

TV USP. Trajetória – Profa. Maria Aparecida Baccega (parte 1/5). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4KelnZOXPHg

TV USP. Trajetória – Profa. Maria Aparecida Baccega (parte 2/5). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9XqfgJIeLk8&t=333s

TV USP. Trajetória – Profa. Maria Aparecida Baccega (parte 3/5). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OJZbORMhLlg&t=42s

TV USP. Trajetória – Profa. Maria Aparecida Baccega (parte 4/5). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=c2BOWa7wOwA

TV USP. Trajetória – Profa. Maria Aparecida Baccega (parte 5/5). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=l7Ob7LnJBGY